Contos do nascer da Terra
Cumpre-me antes que nada salientar que Mia Couto gosta de criar palabras, e é un
mestre nestes mesteres. Asi que, ante palabras como
idimensão (idimensión),
ou minhocar (miñocar),
non serven os dicionários, senón a imaxinación.
CONTOS DO NASCER DA
TERRA |
|
CONTOS DO NASCER/NACER DA
TERRA |
-
Nota: Grupo sc medial. Polo que se refire a conservación
ou a desaparición do grupo latino sc, a normativa de mínimos
segue o modelo do portugués, encanto as NOMIG(1997) prefiren o modelo do castelán.
-
Nos cultismos ambas normativas prescreben conservar o grupo. Ex: adolescente, condescender,
discernir, plebiscito ...
-
Nas palabras patrimoniais a normativa de mínimos prescrebe conservar o grupo, e as
NOMIG(97) reduci-lo a c. Ex: nascer
(nacer), néscio
(necio), crescer
(crecer).
Note-se que nas zonas seseantes este grupo é equivalente a ss,
que se pronúncia como un s normal.
|
| | |
Não é da luz do sol que carecemos. Milenarmente a
grande estrela ilumina a terra e, afinal, nós pouco aprendemos a ver. O mundo necessita
ser visto sob outra luz: a luz do luar, essa claridade que cai com respeito e
delicadeza. Só o luar revela o lado feminino dos seres. Só a lua revela intimidade da
nossa morada terrestre.
Necessitamos não do nascer do Sol. Carecemos do nascer da Terra.
|
|
Non é da luz do sol que carecemos. Milenarmente a grande
estrela ilumina a terra e, afinal, nós pouco aprendemos a ver. O mundo necesita
ser visto sob/so outra luz: a luz do luar, esa claridade que cai con
respeito e delicadeza. Só o luar revela o lado feminino dos seres. Só a lua revela
intimidade da nosa morada terrestre.
Necesitamos non do nascer/nacer do Sol. Carecemos do nascer/nacer da Terra.
|
|
|
|
| | |
O não desaparecimento de Maria
Sombrinha
Afinal, quantos lados tem o mundo no
parecer dos olhos do camaleão. |
|
O non desaparecimento de Maria
Sombriña
Afinal, cantos/cuantos lados ten o mundo
no parecer dos ollos do camaleón. |
| |
|
| | |
Já muita coisa foi vista neste mundo. Mas nunca se encontrou nada
mais triste que caixão pequenino. Pense-se, antemanualmente, que esta estória
arrisca conter morte de criança. Veremos a verdade dessa tristeza. Como diz o
camaleão - em frente para apanhar o que ficou para trás.
|
|
Xa muita cousa foi vista neste mundo. Mas nunca se encontrou nada
mais triste que caixón pequeniño. Pense-se, antemanualmente, que esta estória
arrisca conter morte de crianza. Veremos a verdade desa tristeza. Como diz
o camaleón - en frente para apañar o que ficou para trás.
|
|
|
|
-
Nota: criança = neno ou
nena.
-
Nota: coisa -> cousa. Ainda que
en portugués pode-se dicer tanto cousa como
coisa, está última é con moito a forma mais
usual na actualidade.
-
Nota: antemanualmente (antemanualmente)
é una criazón do autor. Eu interpreto que ven de "de antemán". |
| | |
Deu-se o caso numa família
pobre, tão pobre que nem tinha doenças. Dessas em que se morre mesmo saudável.
Não sendo pois espantável que esta narração acabe em luto.
Em todo o mundo, os pobres têm essa estranha mania de morrerem muito. Um dos
mistérios dos lares famintos é falecerem tantos parentes e a família aumentar
cada vez mais. Adiante, diria o camaleonino réptil.
|
|
Deu-se o caso nunha família
pobre, tan pobre que nen tiña doenzas. Desas en que se morre mesmo saudábel.
Non sendo pois espantábel que esta narración acabe en luto. En todo o mundo,
os pobres teñen/ten/tein esa estraña mania de morreren muito. Un dos
mistérios dos lares famintos é faleceren tantos parentes e a família aumentar
cada vez mais. Adiante, diria o camaleonino réptil.
|
|
|
|
-
Nota: Têm (teñen/ten/tein)
é a terceira persoa do plural do presente do verbo ter (ter), encanto a terceira persoa do singular é
tem (ten), i.e. ambas persoas
diferencian-se unicamente na abertura da vogal. Esta proximidade deu lugar en galego a aparición
da forma analóxica teñen, que se espallou na maior parte da
Galiza, convivindo coas formas mais tradicionais ten, con vogal
fechada, e tein. Este fenómeno tamén ocorre en portugués,
non sendo inusual na fala, que non na escrita, a forma tenhem. |
|
|
|
A família de Maria Sombrinha vivia em tais
misérias, que nem queria saber de dinheiro. A moeda é o grão de
areia esfluindo entre os dedos?. Pois, ali, nem dedos. Tudo começou
com o pai de Sombrinha. Ele se sentou, uma noite, à cabeceira da mesa. Fez as rezas
e olhou o tampo vazio.
|
|
A família de Maria Sombriña vivia en
tais misérias, que nen queria saber de diñeiro. A moeda é o gran/grao
de area/areia esfluindo entre os dedos?. Pois, ali, nen dedos.
Todo comezou co pai de Sombriña. El se sentou, unha noite, á cabeceira
da mesa. Fixo/fizo as rezas e ollou o tampo vacio.
|
|
|
|
-
Nota: Esfluindo é unha criazón do autor derivado de
fluir (fluir).
-
Nota: En portugués diferencia-se entre tudo e
todo:
-
todo, adx. e pron. indef. inteiro; completo; íntegro; total;
calquer; cada; o maior; s.m. conxunto; soma; universalidade; aspeito xeral.
-
tudo, pron. indef. inv. a totalidade das persoas ou cousas de que
se trata; o esencial, o indispensábel.
-
Nota: No portugués escrito non é obrigatória nen usual a contracción da
preposición com e o artigo o
(co). Cousa que si ocorre en galego. Vexa-se a nota sobre
contraccións.
-
Nota: En portugués o pronome persoal masculino da terceira persoa escrebe-se:
ele (el).
-
Nota: En portugués a terceira persoa de singular do preterito perfeito do verbo
fazer (facer) é
fez. En galego usan-se duas formas,
fixo, a mais espallada, e fizo,
minoritária.
|
|
|
|
- Eh pá, esta mesa está diminuir!
Os outros, em silêncio, balancearam a cabeça, em hipótese. - Vocês não
estão a ver? Qualquer dia não temos onde comer. Ao se preparar para dormir, apontou o
leito e chamou a mulher: - Esta cama cada dia está mais pequena. Um dia desses não tenho
onde deitar.
Debateram o assunto, timidamente, com o pai. Sugeriram que a razão pudesse ser
inversa: o mundo é que estava a aumentar, encurralando a aldeiazinha. Fosse o caso dessa
suposição, a aldeia estaria metida em vara de sete camisas. Mas o velho não
arredou ideia. Casmurrou contra argumento alheio, ancorado na teima dele. |
|
- Eh pá, esta mesa está diminuir!
Os outros, en siléncio, balancearon a cabeza, en hipótese. - Vostés non están
a ver? Calquer dia non temos onde comer. Ao se preparar para dormir, apontou o leito e chamou
a muller: - Esta cama cada dia está máis pequena. Un dia deses non teño onde deitar.
Debateron o asunto, timidamente, co pai. Suxeriron que a razón pudese ser
inversa: o mundo é que estaba a aumentar, encurralando a aldeaziña. Fose o caso desa
suposición, a aldea estaria metida en vara de sete camisas. Mais o vello non arredou idea.
Casmurrou contra argumento alleo, ancorado na teima del. |
|
|
|
-
Nota: A tradución mais imediata de vocês é
vostés/vostedes. Mais cumpre
sinalar que en portugués você non é usualmente un tratamento de respeito.
Asi no Brasil é equivalente a tu
(tu/ti), praticamente desaparecido
da língua popular, e actualmente en Portugal soa despreciativo, i.e. tratar a alguén de
você é considerá-lo inferior. Non sei cal é a
situación en Mozambique, mais neste caso unha tradución correcta da frase
Vocês não estão a ver? parece-me:
Vós non estades a ver?
|
|
|
|
Por fim, sua visão minguante aconteceu
com Sombrinha. Ele via o tamanho dela se acanhar, mais e mais pequenita. E se queixava,
pressentimental:
- Esta menina está-se a enxugar no poente ...
Todos se riam. O pai cada vez piorava. Face ao riso, o homem se remeteu à ausência.
Se transferiu para as traseiras, se anichou entre desperdício e desembrulhos. A filha ainda
solicitou comparência do mais velho.
- Deixe o seu pai. Lá onde está, ele não está em lugar
nenhum.
Valia a pena sombrear a miúda, minhocar-lhe o juízo? Mas Sombrinha não
deixou de rimar com a alegria. Afinal, era ainda menos que adolescente, dada somente a
brincriações. Sendo ainda tão menina, contudo, um certo dia ela se
barrigou, carregada de outrem. Noutros termos: ela se apresentou grávida. Nove meses
depois se estreava a mãe. Sem ter idade para ser filha como podia desempenhar
maternidades?. |
|
Por fin, a sua visión minguante aconteceu
con Sombriña. El via o tamaño dela se acañar, mais e mais pequeniña. E se
queixaba, presentimental:
- Esta meniña está-se a enxugar no poente ...
Todos se rian. O pai cada vez pioraba. Face ao riso, o home se remeteu á auséncia.
Se transferiu para as traseiras, se anichou entre desperdício e desembrullos. A filla ainda
solicitou comparéncia do mais vello.
- Deixe o seu pai. Lá onde está, ele non está em lugar nengun.
Valia a pena sombrear a miúda, miñocar-lle o xuízo? Mais Sombriña
non deixou de rimar coa alegria. Afinal, era ainda menos que adolescente, dada somente a
brincriacións. Sendo ainda tan meniña, contodo, un certo dia ela se
barrigou, carregada de outren. Noutros termos: ela se apresentou grávida. Nove meses
depois se estreaba a mai. Sen ter idade para ser filla como podia desempeñar
maternidades? |
-
mãe -> mai
-
Nota: O pronome indefinido portugués nenhum corresponde-se
coa forma galega nengun/ningun
(mínimos/NOMIG).
-
Nota: pressentimental, minhocar,
brincriações (brincar +
criações) e barrigar son
criazóns de Mia Couto.
|
|
|
|
A criancinha nasceu, de simples escorregão,
tão minusculinha que era. A menina pesava tão nada que a mãe se esquecia dela em
todo o lado. Ficava em qualquer canto sem queixa nem choro.
- Essa menina só pára quieta!, queixava-se Sombrinha.
Deram o nome à menininha: Maria Brisa. Que ela nem vento lembrava, simples aragem.
Dona mãe ralhava, mas sem nunca fechar riso, tudo em disposições. Até que
certa vez repararam em Maria Brisa. Porque a barriguinha dela crescia, parecia uma lua em
estação cheia. Sombrinha ainda devaneou. Deveria ser um vazio mal digerido. Gases
crescentes, arrotos tontos. Mas depois, os seios lhe incharam. E concluíram, em tremente
arrepiação: a recém-nascida estava grávida!. E, de facto, nem tardaram os
nove meses. Maria Brisa dava à luz e Maria Sombrinha ascendia a mãe e avó quase
em mesma ocasião. Sombrinha passou a tratar de igual seus rebentinhos - a filha e a
filha da filha. Uma pendendo em cada pequenino seio. |
|
A crianciña nasceu, de simples escorregón,
tan minusculiña que era. A menina pesaba tan nada que a mai se esquecia dela en todo o
lado. Ficaba en calquer canto sen queixa nen choro.
- Esa meniña só pára quieta!, queixaba-se Sombriña.
Deron o nome á meniniña: Maria Brisa. Que ela nen vento lembraba, simples
araxe/araxen.
Dona mai rallava, mais sen nunca fechar riso, tudo en disposicións. Até
que certa vez repararon en Maria Brisa. Porque a barriguiña dela crescia,
parecia unha lua en estación chea. Sombriña ainda devaneou. Deberia ser
un vacio mal dixerido. Gases crescentes/crecentes, arrotos tontos. Mais
depois, os seos/seios lle incharon. E concluíron, en tremente arrepiazón:
a recén-nascida estaba grávida!. E, de facto, nen tardaron os nove meses.
Maria Brisa daba á luz e Maria Sombrinha ascendia a mai e avoa case en
mesma ocasión. Sombriña pasou a tratar de igual seus rebentiños - a filla
e a filla da filla. Unha pendendo en cada pequeniño seo/seio. |
-
-em -> -en/-e
-
Nota: arrepiação
(arrepiazón/arrepiación) é
unha criazón do autor que supoño significa arrepio
(arrepio).
-
Nota: En portugués avô
(avó) é masculino e avó
(avó/avoa) feminino. Nas NOMIG(97) prescrebe-se
avoa, ainda sinalando que nalgunhas partes da Galiza a pronúncia
tradicional coincide coa do portugués, i.e. diferencia-se o sexo dos devanceiros mediante a
abertura da vogal. En mínimos consideran-se válidas as duas formas
avoa e avó, mais ao non marcar a
abertura das vogais o resultado na escrita resulta un tanto confuso.
|
|
|
|
A família deu conta, então, do que o
pai antes anunciara: Sombrinha, afinal das contas, sempre se confirmava regredindo. De dia para
dia ela ia ficando sempre menorzita. Não havia que iludir - as roupas iam sobrando,
o leito ia crescendo. Até que ficou do mesmo tamanho da filha. Mas não se quedou por ali.
Continuou definhando a pontos de competir com a neta.
Os parentes acreditaram que ela já chegara ao mínimo mas, afinal, ainda continuava
a reduzir-se. Até que ficou do mesmo tamanho de uma unha negra. A mãe, as primas, as
tias a procuravam, agulha em capinzal. Encontravam-na em meio de um anónimo buraco e lhe
deixavam cair uma gotícula de leite.
- Não deite de mais que ainda ela se afoga!
Até que, um dia, a menina se extinguiu, em idimensão. Sombrinha era
incontemplável a vistas nuas. Choraram os familiares, sem conformidade. Como iriam
ficar as duas orfãzinhas, ainda na gengivação de leite? A mãe
ordenou que se fosse ao quintal e se trouxesse o esquecido pai. O velho entrou sem entender o
motivo do chamamento. Mas, assim que passou a porta, ele olhou o nada e chamou, em encantado riso:
- Sombrinha, que faz você nessa poeirinha?
E depois pegou numa imperceptível luzinha e supendeu-na no vazio dos braços. Venha que
eu vou cuidar de si, murmurou enquanto regressava para o quintal da casa, nas
traseiras da vida. |
|
A família deu conta, entón, do que o pai
antes anunciara: Sombriña, afinal das contas, sempre se confirmaba regredindo. De dia para
dia ela ia ficando sempre menorciña. Non habia que iludir - as roupas ian sobrando, o leito
ia crescendo. Até que ficou do mesmo tamaño da filla. Mas non se quedou por ali.
Continuou defiñando a pontos de competir coa neta.
Os parentes acreditaran que ela xa chegara ao mínimo mais, afinal, ainda continuaba a
reducir-se. Até que ficou do mesmo tamaño de unha uña negra. A mai, as primas, as
tias a procuraban, agulla en capinzal. Encontraban-na en meio dun anónimo buraco e lle deixaban
cair unha gotícula de leite.
- Non deite de mais que ainda ela se afoga!
Até que, un dia, a meniña se extinguiu, en idimensión. Sombriña era
incontemplábel a vistas nuas. Choraran os familiares, sen conformidade. Como irian ficar
as duas orfaciñas, ainda na xenxivación de leite? A mai ordenou que se fose
ao quintal e se trouxese o esquecido pai. O vello entrou sen entender o motivo do chamamento. Mais,
asi que pasou a porta, el ollou o nada e chamou, en encantado riso:
- Sombriña, que fas nesa poeiriña?
E depois pegou nunha imperceptíbel luciña e supendeu-na no vacio dos brazos.
Veña que eu vou cuidar de si, murmurou encuanto/encanto regresaba para o quintal da casa,
nas traseiras da vida. |
-
Nota: menorcita -> menorciña.
-
Nota: Capinzal: Terreo onde crescen ervas.
-
Nota: idimensão (idimensión),
incontemplável (incontemplábel)
e gengivação (xenxivación)
son criazóns do autor.
-
Nota: O portugués orfãzinhas corresponde-se en galego
con orfiñas ou orfansiñas.
Teño a impresión que a primeira forma, orfiñas, usa-se
nas zonas ceceantes e a segunda, orfansiñas, nas seseantes.
-
Nota: assim -> asi.
-
Nota: faz (fai) é a terceira persoa
de singular do presente do verbo fazer
(facer).
-
Nota: cuidar de si -> cuidar-te.
|
|