Prévio:  Contos do nascer da Terra   Superior:  Prática   Próximo:  Futuro peninsular

 

DE ONDE VÊM OS SOBRENOMES DOS BRASILEIROS?   DE ONDE VEÑEM OS SOBRENOMES DOS BRASILEIROS?
  • Nota: Vêm (veñen/ven/vein) é a terceira persoa do plural do presente de indicativo do verbo vir (vir), encanto a terceira persoa do singular é vem (ven) i.e. ambas persoas diferencian-se unicamente na abertura da vogal. Esta proximidade deu lugar en galego a aparición da forma analóxica veñen, que se espallou na maior parte da Galiza, convivindo coas formas mais tradicionais ven, con vogal fechada, e vein. Este fenómeno tamén ocorre en portugués, non sendo inusual na fala, que non na escrita, a forma venhem.

  • No portugués do Brasil utiliza-se sobrenome, para o mesmo que os portugueses e galegos chamamos apelido (apelido). E empregan apelido para o que nós chamamos alcuña ou alcume.

   
Descubra como surgiram os Silva, os Araújo, os Fernandes, os Batista, os Carneiro...   Descubra como surxiron os Silva, os Araúxo, os Fernandes, os Batista, os Carneiro...
 
   

Cristina da Cunha e Armando Perdigão se casaram e tiveram um filho: Bernardo da Cunha Perdigão. O nome do menino foi de livre escolha dos pais. Já o sobrenome ele herdou de família, como uma marca registrada. É direito de todo cidadão brasileiro, ao nascer, ser registrado com nome e sobrenome, com os quais será identificado ao longo da vida. Houve um tempo em que uma regra mais ou menos rígida estabelecia que logo após o nome vinha o sobrenome da família materna, seguido do sobrenome da família paterna. Assim como aconteceu com o Bernardo.

 

Cristina da Cuña e Armando Perdigón casaron e tiveron un fillo: Bernardo da Cuña Perdigón. O nome do menino foi de libre escolla dos pais. Xa o sobrenome el herdou de família, como unha marca rexistrada. É direito de todo cidadán brasileiro, ao nascer/nacer, ser rexistrado con nome e sobrenome, cos cais será identificado ao longo da vida. Houbo un tempo en que unha regra mais ou menos ríxida estabelecia que logo após o nome viña o sobrenome da família materna, seguido do sobrenome da família paterna. Asi como aconteceu co Bernardo.

 

  • Nota : houve -> houbo. En portugués as primeira e terceira persoas de singular do pretérito perfeito do verbo haver (haber) coinciden na forma houve (houben/houbo).

  • Nota: ele herdou -> herdou-no. Un dos riscos mais característicos do portugués do Brasil, frente ao portugués de Portugal e o galego, é o non uso dos pronomes persoais como complemento directo ou indirecto. Asi entanto un galego di: o apelido herdou-no do pai, un brasileiro di: o sobrenome ele herdou do pai. (E un portugués diria: o apelido herdou-o do pai).

 

 

 

Hoje em dia, essa ordem deixou de ter tanta importância. Mas, ainda assim, é possível detectar a que família pertence uma pessoa, ou suas relações de parentesco, a partir do sobrenome. Pensando bem, se herdamos o sobrenome de nossos pais e avós, que, por sua vez, o receberam de seus antepassados, e assim sucessivamente, como surgiram esses sobrenomes?

 

Hoxe en dia, esa orden/orde deixou de ter tanta importáncia. Mais, ainda asi, é posíbel detectar a que família pertence unha persoa, ou suas relacións de parentesco, a partir do sobrenome. Pensando ben, se herdamos o sobrenome de nosos pais e avós, que, por sua vez, o receberon de seus antepasados, e asi sucesivamente, como surxiron eses sobrenomes?

 

  • Nota: suas relações -> as suas relacións. En galego os pronomes posesivos: meu(s)/miña(s), teu(s)/tua(s) e seu(s)/sua(s), van antecedidos polo artigo na imensa maioria das veces. No portugués do Brasil o normal e usar os posesivos sen artigo prévio, entanto en Portugal fican a meio camiño, usan-nos ás veces, mais non sempre.

 

 

 

A maior parte dos sobrenomes que circulam no Brasil é de origem portuguesa e chegou aqui com os colonizadores. A maioria tem origem geográfica. Ou seja: no local em que a pessoa nasceu ou em que morava. Desta forma, Guilherme, nascido ou vindo da cidade portuguesa de Coimbra, passou a ser, como seus parentes, Guilherme Coimbra. Assim, também Varela, Aragão, Cardoso, Araújo, Abreu, Guimarães, Braga, Valadares, Barbosa e Lamas eram nomes de cidades ou regiões que identificavam os que nasceram, passando a funcionar, com o tempo, como sobrenomes.

 

A maior parte dos sobrenomes que circulan no Brasil é de orixen/orixe portuguesa e chegou aqui cos colonizadores. A maioria ten orixen/orixe xeográfica. Ou sexa: no local en que a persoa nasceu/naceu ou en que moraba. Desta forma, Guillerme, nascido/nacido ou vindo da cidade portuguesa de Coimbra, pasou a ser, como seus parentes, Guillerme Coimbra. Asi, tamén Varela, Aragón, Cardoso, Araúxo, Abreu, Guimaráns, Braga, Valadares, Barbosa e Lamas eran nomes de cidades ou rexións que identificaban os que alá nasceran/naceran, pasando a funcionar, co tempo, como sobrenomes.

  • Nota: -> alá / . En portugués os advérbios de lugar alá, acá escreben-se sen o a inicial, i.e. e . No entanto aqui e acolá escreben-se como en galego. En realidade na Galiza as formas e non son descoñecidas, mais si minoritárias.

 

 

 

Alguns desses sobrenomes, aliás, não se referem a localidades, mas a simples propriedades rurais onde um determinado tipo de plantação era privilegiado. Por exemplo, os moradores de uma quinta em que se cultivavam oliveiras passaram a ser conhecidos como Oliveira, o mesmo acontecendo com Pereira, Macieira e tantos outros.

 

Alguns deses sobrenomes, aliás, non se referen a localidades, mais a simples propriedades rurais onde un determinado tipo de plantación era privilexiado. Por exemplo, os moradores dunha quinta en que se cultivaban oliveiras pasaron a ser coñecidos como Oliveira, o mesmo acontecendo con Pereira, Macieira e tantos outros.

 

 

 

Outra origem de sobrenomes foram as alcunhas, ou apelidos, atribuídos a uma pessoa para identificá-la e que depois se incorporava a seu nome como se dele fizesse parte. É o caso de Louro, Calvo e Severo, por exemplo. Muitos nomes de família se originaram também de nomes de animais, fosse por traços de semelhança física ou de características de temperamento: Lobo, Carneiro, Aranha, Leão e Canário1 são alguns deles. Também por derivação foi possível formar sobrenomes. Fernandes, por exemplo, seria, na origem, o filho de Fernando; assim como Rodrigues, o filho de Rodrigo; Álvares, o de Álvaro.

 

Outra orixen/orixe de sobrenomes foron as alcuñas, ou apelidos, atribuídos a unha persoa para identificá-la e que depois se incorporaba a seu nome como se dele fixese parte. É o caso de Louro, Calvo e Severo, por exemplo. Muitos nomes de família se orixinaron tamén de nomes de animais, fose por trazos de semellanza física ou de características de temperamento: Lobo, Carneiro, Araña, León e Canário son alguns deles. Tamén por derivación foi posíbel formar sobrenomes. Fernandes, por exemplo, seria, na orixen/orixe, o fillo de Fernando; asi como Rodrigues, o fillo de Rodrigo; Álvares, o de Álvaro.

  • ç -> z

  • Nota: fizesse -> fixese / ficese. En galego moderno o pretérito e antepretérito de indicativo e o pretéritoe futuro de subxuntivo do verbo facer pode construir-se a partir de dous radicais, fix- (fixen, fixera, fixese...) maioritário e fiz- (ficen, ficera, ficese...) nalgunha zonas. En portugués, como en galego medieval, usa-se o radical fiz-.

 

 

 

Negros africanos, que vieram para o Brasil como escravos, e dos quais tantos de nós descendemos, foram obrigados a deixar para trás seu passado, seu nome e a identificação de sua origem tribal. Aqui foram batizados com um nome cristão e os sobrenomes que recebiam muitas vezes eram os mesmos de seus senhores. Quando isso não ocorria, os senhores lhes davam sobrenomes de origem religiosa, como Batista, de Jesus, do Espírito Santo.

 

Negros africanos, que viñeron para o Brasil como escravos, e dos cais tantos de nós descendemos, foron obrigados a deixar para trás seu pasado, seu nome e a identificación de sua orixen/orixe tribal. Aqui foron batizados con un nome cristián e os sobrenomes que recebian muitas veces eran os mesmos de seus señores. Quando/Cando iso non ocorria, os señores lles daban sobrenomes de orixen/orixe relixiosa, como Batista, de Xesus, do Espírito Santo.

  • Nota: vieram -> viñeron. En portugués o pretérito do verbo vir conxuga-se: vim, viste, veio, viemos, viestes, vieram.

 

 

 

Também o leigo "da Silva" (silva em latim é selva, o que significa que a pessoa assim denominada tinha origem imprecisa, não se sabia ao certo de que cidade ou região ela procedia) foi fartamente atribuído àqueles que não traziam consigo um nome de família. Não é, portanto, por acaso que Silva é hoje no Brasil o sobrenome mais comum, aquele usado pelo maior número de cidadãos, dentre os quais os atuais presidente e vice-presidente da República!2

 

Tamén o leigo "da Silva" (silva en latin é selva, o que significa que a persoa asi denominada tiña orixen/orixe imprecisa, non se sabia ao certo de que cidade ou rexión ela procedia) foi fartamente atribuído áqueles que non traian consigo un nome de família. Non é, portanto, por acaso que Silva é hoxe no Brasil o sobrenome mais comun, aquel usado pelo maior número de cidadaos/cidadáns, dentre os cuais/cais os actuais presidente e vice-presidente da República!

  • Nota: traziam -> traian. A terceira persoa de plural do verbo trazer (traer) é traziam. En galego a forma mais usual é traian, se ben este verbo apresenta moita variantes zonais.

  • Nota: atuais -> actuais. Como xa se veu anteriormente no portugués do Brasil o grupo culto -ct-, entre outros, reduce-se a -t-.

 

 

 

Situação semelhante ocorreu com os indígenas: como essa cultura sempre relacionou o sobrenome do indivíduo com a tribo à qual pertencia, é comum ainda hoje que um cidadão de origem indígena seja registrado, por exemplo, como Galdino Pataxó ou Marcos Terena.

 

Situación semellante ocorreu cos indíxenas: como esa cultura sempre relacionou o sobrenome do indivíduo coa tribo á cual/cal pertencia, é comun ainda hoxe que un cidadao/cidadán de orixen/orixe indíxena sexa rexistrado, por exemplo, como Galdino Pataxó ou Marcos Terena.

 

 

 

Observar as variadas origens dos sobrenomes brasileiros nos leva a notar que muitos povos se uniram para formar a nossa nação. Aos numerosos Silvas, brasileiríssimos, aos Lisboas e Guimarães que aqui chegaram há quase cinco séculos, vieram com o tempo juntar-se os descendentes dos imigrantes Abdala (árabe), Levy (judaico), Calmon (francês), Abbott (inglês), Fomm (prussiano), Schmidt (alemão), Ferretti (italiano) e inúmeros outros que tanto contribuíram para a formação de nossa cultura, que é riquíssima.

 

Observar as variadas orixens/orixes dos sobrenomes brasileiros nos leva a notar que muitos povos se uniron para formar a nosa nazón. Aos numerosos Silvas, brasileirísimos, aos Lisboas e Guimaráns que aqui chegaron ha cuase/case cinco séculos, viñeran co tempo xuntar-se os descendentes dos imigrantes Abdala (árabe), Levy (xudaico), Calmon (francés), Abbott (inglés), Fomm (prusiano), Schmidt (alemán), Ferretti (italiano) e inúmeros outros que tanto contribuíron para a formación de nosa cultura, que é riquísima.

 

 

 

Essa diversidade cultural, motivo de nosso orgulho, expressa pela variedade de sobrenomes, nos faz pensar também na nossa maravilhosa e surpreendente unidade lingüística: um país do tamanho do Brasil, habitado por uma população de origem tão variada, como se pode verificar por uma simples análise dos sobrenomes, fala de norte a sul um único idioma. Os Batistas e os Abramovitchs, os Lopes e os Smiths conversam, discutem, contam piadas e trocam juras de amor na mesma língua em que pronunciaram as primeiras palavras, em que aprenderam as primeiras letras na escola, em que cantaram músicas e ouviram notícias pelo rádio e pela televisão.

 

Esa diversidade cultural, motivo de noso orgullo, expresa pola variedade de sobrenomes, nos fai pensar tamén na nosa maravillosa e surpreendente unidade lingüística: un país do tamaño do Brasil, habitado por unha populación de orixen/orixe tan variada, como se pode verificar por unha simples análise dos sobrenomes, fala de norte a sul un único idioma. Os Batistas e os Abramovitchs, os Lopes e os Smiths conversan, discuten, contan piadas e trocan xuras de amor na mesma língua en que pronunciaron as primeiras palabras, en que aprenderon as primeiras letras na escola, en que cantaron músicas e ouviron notícias polo rádio e pola televisión.


 

1 Suspeito que Canário ten mais a ver coas Illas Canárias, onde houbo unha importante colónia portuguesa, que coas cantoras aves.

2 Serán de orixe brasileira os numerosos Silvas que andan pola Galiza?, e que dicer dos Silvarredonda?.


 
Prévio:  Contos do nascer da Terra   Superior:  Prática   Próximo:  Futuro peninsular

 

José Ramom Flores d'as Seixas25-07-2004